O mal da
mediocridade
* por
Tom Coelho
“Tenho mais medo da mediocridade que da morte.”
(Bob Fosse)
Dia destes, em um voo
durante a madrugada, uma senhora sentada ao meu lado, na poltrona central,
tentava acomodar com a cabeça apoiada no colo seu filho adormecido de pouco
mais de três anos, que acabara de passar por uma cirurgia cardíaca. O quadro
era de grande desconforto. Por isso, decidi ceder meu lugar no corredor a ela,
deslocando-me para um assento localizado na saída de emergência.
A comissária
imediatamente me interpelou, informando que aquele assento era exclusivo para
quem havia “adquirido o produto no check-in”,
de modo que eu deveria retornar ao lugar de origem. Diante de minha explicação
sobre o porquê de eu ocupar aquela poltrona naquele momento, ela emendou:
“Estou apenas seguindo ordens”.
Em outra ocasião, hospedei-me
em um hotel luxuoso reservado pela empresa contratante, com um valor de diária
exorbitante para quem apenas repousaria por algumas poucas horas. Assim que
adentrei o quarto, busquei o cardápio do room
service, a fim de fazer uma refeição após tantas horas de voo. Porém, o
atendente na cozinha disse-me que não poderia acatar meu pedido, pois o serviço
havia encerrado à meia-noite. Detalhe: o relógio marcava meia-noite e nove!
A mediocridade é uma
das maiores chagas do mundo moderno. Ela representa estatisticamente a porção
central da distribuição normal, ou curva de Gauss, segundo a qual cerca de 70%
dos eventos observáveis encontram-se dentro da média com mais ou menos um
desvio padrão.
É medíocre o aluno que
se esforça apenas para obter a nota mínima exigida para passar de ano. É
medíocre o estudante de pós-graduação que comparece às aulas com desinteresse,
pois seu único objetivo é alcançar o certificado de conclusão do curso para
rechear seu currículo. É medíocre o trabalhador que
lacônica e covardemente apenas cumpre ordens, destituindo-se de um mínimo de
bom senso e flexibilidade, como nos dois casos acima relatados.
Olhando para os
extremos da curva de Gauss, identificamos dois grupos importantes de variáveis,
muito acima ou muito abaixo da média, e que por esta característica de
excepcionalidade impactam de forma decisiva os rumos da história. É o que
Nassim Taleb denomina de “Extremistão”, em sua obra A lógica do cisne negro – O impacto do altamente improvável.
No mundo da gestão de
pessoas, temos do lado direito da curva os grandes líderes e realizadores, aqueles
que se destacam pela proatividade e elevada resiliência. Já do lado esquerdo,
encontramos os estúpidos, dotados de falta de discernimento e sensibilidade.
O maior desafio de um
gestor, líder ou educador, em qualquer cenário ou âmbito, é distorcer a curva
de Gauss, trazendo os tolos ao menos para a média – ou livrando-se deles,
quando possível – e estimulando os medíocres a abandonarem a zona de conforto
para se tornarem pessoas especiais, comprometidas e engajadas, capazes de fazer
não apenas o possível, mas de entregarem o seu melhor.
Agora eu lhe pergunto:
em que ponto da curva você se encontra?
* Tom
Coelho é educador, palestrante em gestão de pessoas e negócios, escritor
com artigos publicados em 17 países e autor de oito livros. E-mail: tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br e www.setevidas.com.br.